No meu artigo anterior, provoquei com a pergunta: “Agile is Dead?”
A resposta não era que a agilidade morreu — mas que a caricatura de agilidade que criamos está esgotada.
Por anos, vimos transformações ágeis centradas em cerimônias, frameworks e rótulos.
Pouca atenção foi dada a:
cultura e liderança,
estratégia e portfólio,
estrutura organizacional,
fluxos reais de decisão,
como a empresa de fato cria e captura valor.
O resultado?
Agilidade operando no nível do time, enquanto o restante da organização continuava funcionando com a lógica de projetos, silos e comando-controle.
E o paradoxo continua:
71% das organizações declaram utilizar métodos ágeis no desenvolvimento de software (State of Agile 2023),
mas poucas percebem impacto real na execução estratégica.
Ou seja:
O problema não é o Scrum. Não é o Agile. É a ausência de um modelo operacional.
O movimento clássico de transformação foi assim:
Times começam a usar Scrum
Mais foco, ciclos menores, visibilidade melhor.Escala tenta ser resolvida com frameworks prontos
SAFe, LeSS, Nexus — aplicados como “pacotes”.A organização ignora o que realmente sustenta agilidade
estratégia clara,
liderança coerente,
incentivos alinhados,
fluxo de informação baseado em evidências,
estrutura organizacional compatível.
Por isso, tantas transformações morrem na praia.
Frameworks mudam — o modelo operacional continua o mesmo.
E é exatamente nesse vazio que surgem os Product Operating Models (POM).
O nascimento dos Product Operating ModelsDe forma simples:
POM é o sistema operacional da empresa quando ela decide operar orientada a produtos, não a projetos.
Enquanto o Scrum descreve como um time trabalha,
o POM descreve como a organização inteira funciona.
como estratégia vira portfólio,
como times se conectam a resultados,
como cultura e liderança suportam decisões,
como processos, dados e tecnologia fluem,
como produtos são financiados e evoluem.
É também onde cresce uma disciplina que explodiu nos últimos anos: Product Operations (Product Ops).
Mais de 700% de crescimento em profissionais com esse título desde 2019 (LinkedIn).
Funções de Product Ops existem em Uber, Stripe, Shopify, Faire, entre outras.
Seu papel é criar consistência de processos, dados e ferramentas para permitir escala.
Na prática:
Product Ops é o motor operacional do POM.
Um Product Operating Model (POM) organiza a empresa para operar por produtos.
O Agile Product Operating Model (APOM) — proposto pela Scrum.org — é uma evolução do POM para ambientes complexos.
Ele preserva tudo que o POM tem,
mas adiciona:
empirismo (Scrum),
gestão por evidências (EBM),
discovery contínuo,
estruturas orientadas a valor e outcomes,
adaptação organizacional como princípio.
No APOM:
Times Scrum operam na camada de execução.
Product Ops cria coerência entre múltiplos times.
Estratégia, cultura, estrutura e operação se alinham em um sistema único.
Execução pode ser ágil ou não ágil, dependendo do contexto.
E aqui está um ponto essencial:
O APOM não força Scrum em tudo.
Ele habilita que cada parte da organização use o que faz sentido para seu nível de complexidade.
Scrum aparece dentro do APOM como uma forma eficaz de operar em ambientes complexos,
não como regra universal.
Ele não impõe Scrum em tudo.
Ele permite que cada parte da organização utilize:
Scrum,
Kanban,
fluxos contínuos,
processos regulatórios tradicionais,
ou operações repetitivas não-ágil.
Conforme o contexto.
Scrum aparece dentro do APOM como exemplo de operação para ambientes complexos,
não como regra universal.
Scrum não desaparece.
Ele finalmente ganha contexto.
No APOM:
O Scrum Team opera com clareza de propósito.
A organização provê estratégia, dados, estrutura e liderança coerente.
Product Ops garante fluxo, governança, insights e consistência.
O resultado?
Scrum deixa de ser “um time isolado tentando sobreviver”
e passa a ser um componente de um modelo operacional coerente, vivo e adaptável.
Então… Agile is Dead?
Apenas a sua versão superficial.
O Agile baseado em cerimônias, cargos e frameworks aplicados como receita realmente não se sustenta.
Mas o Agile como capacidade organizacional de aprender, adaptar-se e gerar valor continuamente — esse nunca foi tão necessário.
Os Product Operating Models — e o APOM em particular — oferecem aquilo que sempre faltou nas transformações anteriores:
um modelo operacional coerente, capaz de alinhar estratégia, cultura, estrutura, operação e evidências.
O Scrum não desaparece.
Ele ganha significado dentro de um sistema que suporta seu uso em ambientes complexos, ao mesmo tempo que permite operações não ágeis quando o contexto exige.
